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Espondilólise e espondilolistese são duas condições que envolvem mudanças diretamente na vértebra. A espondilólise é definida como um defeito com descontinuidade óssea do segmento intervertebral, região da lâmina entre os processos articulares superiores e inferiores. A progressão do defeito pode resultar em espondilolistese, que é a subluxação de duas vértebras adjacentes, evidente no raio-x de projeção lateral e oblíqua como uma linha de separação posterior ao corpo da vértebra. Estudos indicam que 50 a 81% dos casos de espondilólise estão associados com espondilolistese. A ocorrência da espondilolistese é maior na coluna lombar, principalmente entre os níveis L5-S1, predispondo à lombalgia, sobretudo em crianças e adolescentes. Estudos epidemiológicos mostraram que a incidência de espondilólise está relacionada com a idade, herança genética, gênero, raça e nível de atividade. Além desses fatores, ati-vidades que requerem hiperextensão ou hiperflexão da coluna lombar aumentam o risco de espondilólise/listese. Esportes como ginástica, futebol, mergulho, luta, levantamento de peso e remo apresentam incidência excepcionalmente alta dessas patologias.

A espondilolistese é classificada em cinco categorias baseada na sua etiolo-gia: displástica, ístmica, degenerativa, traumática e patológica.

Geralmente a espondilolistese é assintomática, porém dor lombar e ciática bilateral até as nádegas ou face posterior das coxas podem se manifestar. A dor é leve ou moderada, inicialmente obtusa, que se exacerba com movimentos de extensão e rotação. No exame físico, a dor pode ser reproduzida no teste de extensão lombar com apoio unipodal no qual o paciente realiza descarga de peso em apenas um membro inferior enquanto estende a coluna. Verifica-se à palpação um degrau entre os processos espinhosos das vértebras lombares acometidas em caso de espondilolistese.

Alguns pacientes podem ser capazes de tocar seus dedos dos pés na flexão anterior do tronco como resultado da hipermobilidade segmentar ou do relaxamento ligamentar generalizado. Entretanto, em casos severos, uma limitação da amplitude de movimento de flexão do tronco pode ser observada. A progressão da patologia resulta em tensão dos isquiotibiais, retroversão da pelve, fraqueza dos músculos abdominais e postura flexionada dos quadris e joelhos. A marcha pode estar alterada com os membros inferiores rígidos, passos curtos e rotação pélvica. Sintomas neurológicos acompanham os graus mais severos de espondilolistese, normalmente do tipo displástico, no qual as raízes do nervo lombosssacro podem ser comprimidas atrás da face póstero–superior do sacro. Além disso, algum grau de dor radicular não é incomum na espondilolistese ístmica de longa data. Não obstante, sinais neurológicos objetivos são excepcionais.

O tratamento não-cirúrgico é a escolha inicial na maioria dos casos de espondilolistese, com ou sem sintomas neurológicos, além de ser a principal forma de tratamento das dores lombares. Não há, entretanto, estudos prospectivos randomizados que estabeleçam um protocolo ideal de tratamento. Na maioria dos casos sintomáticos de espondilólise e espondilolistese o tratamento conservador é recomendado para reduzir a dor, restaurar a amplitude de movimento e a função, e para fortalecer e estabilizar os músculos espinhais. Tratamentos conservadores podem incluir modalidades para alívio da dor, como eletro e termoterapia, exercícios de fortalecimento dos músculos posturais, limitação e reeducação para as atividades diárias, imobilização com colete lombar, terapia manipulativa, massagem, tração, entre outros. Estudos têm identificado a fisioterapia como o método mais comum de tratamento não-cirúrgico da espondilólise/listese, com bons resultados. Entretanto, poucos estudos prospectivos foram realizados em que a eficácia da fisioterapia fosse examinada nesse tópico.

Tanto o tratamento conservador por fisioterapia convencional como terapias manuais apresentaram efeitos benéficos na redução da lombalgia e na melhora funcional do paciente. As terapias manuais envolveram manipulação da coluna cervical, torácica, lombossacra e articulação sacroilíaca, músculo-energia e alongamento dos músculos afetados. Exercícios de estabilização lombo-pélvica, fortalecimento dos músculos posturais axiais e alongamento dos isquiotibiais, psoas e fáscia lombodorsal são importantes no tratamento da espondilólise/listese. Procedimentos para alívio dos sintomas, como calor, massagem, ultra-som e TENS, também foram eficazes quando em combinação com um programa de reabilitação. Permanece controversa a indicação do colete, assim como a prescrição de exercícios apenas em flexão ou extensão. O paciente deve ser avaliado individualmente em seu quadro clínico e radiográfico para determinação do plano de tratamento.

FONTE: JASSI, F. J;  SAITA, L. S;  GRECCO, A. C. P;  TAMASHIRO, M. K;  CATELLI, D. S;  DO NASCIMENTO, P. R. C;  KURIKI, H. U.;  NEGRÃO FILHO, R. F. Terapia Manual no Tratamento da Espondilólise e Espondilolistese: Revisão de Literatura. FISIOTERAPIA E PESQUISA, SÃO PAULO, V .17, N .4, P . 366-71, OUT/DEZ . 2010.