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O conceito atual é que o impacto femoroacetabular é uma condição que resulta do contato anormal entre a cabeça do fêmur e a borda acetabular, que leva a um conflito mecânico causador de microtraumatismos aplicados no labrum e cartilagem acetabular que provocam lesões nessas estruturas. Geralmente o impacto decorre de alterações na transição colo-cabeça e/ou no acetábulo. Entretanto, pode ocorrer em quadris morfologicamente normais, mas que são submetidos a grandes demandas físicas associadas a repetidos movimentos de flexão.

A articulação do quadril é do tipo bola e soquete e seus movimentos requerem rolamento da cabeça femoral no acetábulo. O impacto surge quando essa harmonia de movimentos é alterada, o que resulta em bloqueio mecânico dos últimos graus de movimentos da cabeça femoral, o que faz com que golpeie a borda lateral do acetábulo e cause microtraumatismos regionais. As estruturas mais afetadas são o labrum e a região anterolateral da cartilagem articular do acetábulo e as forças lesivas traduzem-se por compressão e cisalhamento.

No quadril normal, além da cobertura adequada da cabeça do fêmur pelo acetábulo, é importante existir a concavidade ou recuo (offset) cervicocefálico, isto é, a diferença de altura entre o colo do fêmur e a borda esférica da cabeça femoral. Esse desnível é importante porque assegura que haja acomodação do colo em relação à periferia do acetábulo para propiciar os últimos graus de movimento. A diminuição do offset provocada pela perda da esfericidade da cabeça femoral é causada por extensão anômala da epífise proximal do fêmur principalmente na região anterossuperior (coxa recta). Essa extensão pode ser um resquício filogenético ou surgir como resposta à prática excessiva de esportes durante a maturação esquelética. Em outros casos, a etiologia do FAI pode ser evidente, como em sequelas de fraturas do colo do fêmur, doença de Perthes, epifisiólise, coxa vara, etc.

FONTE: VOLPON, J. B. Impacto femoroacetabular. Rev. bras. ortop. vol.51 no.6 São Paulo Nov./Dec. 2016

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-36162016000600621&script=sci_arttext&tlng=pt

Existem três tipos de IFA que são os seguintes:

  1. Tipo CAM ou CAME

O impacto femoroacetabular do tipo CAM ou CAME recebe esse nome por causa de um defeito na região de transição entre a cabeça e o colo do fêmur. Isso gera um contorno ósseo mais arqueado ou curvado causando um aumento de volume ósseo como se fosse uma espécie de lombada. Como consequência, pode ocorrer a perda do formato esférico da cabeça do fêmur em relação ao acetábulo por causa do contato com o acetábulo. A cabeça do fêmur faz uma espécie de raspagem na borda do acetábulo causando desgaste e lesão do labrum (cartilagem que fica na periferia do acetábulo do quadril que protege e auxilia na lubrificação do quadril) ou também artrose precoce da articulação do quadril. Esse maior IFA ocorre quando o indivíduo realiza movimentos de flexão e rotação interna ao, por exemplo, fazer movimentos de agachar ou de entrar e sair de um carro gerando dor.

Esse tipo de IFA é mais comum em homens, principalmente em atletas jovens.

O IFA do tipo PINCER é assim chamado porque caracteriza uma situação onde ocorre o contato do acetábulo, que apresenta uma proeminência óssea que fica nas bordas superior e anterior do acetábulo, com a cabeça normal do fêmur. Nessa situação, o labrum pode ficar comprimido entre o acetábulo e o fêmur ocasionando lesões como achatamento, escoriações, degenerações, calcificação e até formação de cistos, que caracteriza uma lesão degenerativa. Também pode ocasionar artrose precoce assim como no tipo CAM. Assim como no tipo CAM, o IFA do tipo PINCER também piora com movimentos de rotação do quadril causando até limitação dos movimentos. Esse tipo de IFA é mais predominante em jovens do sexo feminino. 

O impacto femoroacetabular do tipo misto é a combinação do CAM e PINCER. Esse tipo é o mais comum já que essas alterações dificilmente acontecem de formas isoladas sendo predominante em mais de 80% dos casos de IFA.

alguns dos principais sinais e sintomas presentes no IFA são:

Destacamos que a dor ou qualquer outra manifestação clínica pode não surgir em casos de CAM ou PINCER, inclusive nas pessoas que praticam atividade física ou esportes de alto nível. Nas situações onde o portador de IFA sente dor e também apresenta alguma limitação funcional, essa condição é caracterizada como síndrome do impacto femoroacetabular (SIFA).

TRATAMENTO

O tratamento para o IFA pode ser feito tomando as seguintes medidas:

a) Mudança do estilo de vida

A primeira medida tomada para o tratamento do IFA é a mudança do estilo de vida. A mudança na rotina é fundamental para alívio dos sintomas evitando atividades que que causam principalmente dor. Porém, essa medida não é muito viável em atividades comuns do dia a dia ou em jovens, pelo fato de serem muito ativos.

b) Anti-inflamatórios

Os medicamentos anti-inflamatórios podem ajudar no alívio da dor e na redução dos processos inflamatórios.

c) Fisioterapia

Alguns exercícios específicos podem ajudar a melhorar, mesmo que em menor proporção, a amplitude durante o movimento do quadril, além de fortalecer a musculatura dessa região. Porém, na presença de quadril com alteração do formato, esses exercícios são apenas uma solução temporária. É preciso destacar que no IFA não se pode forçar movimentos exagerados do quadril, pois isso pode causar ainda mais danos na articulação já que existe uma anormalidade óssea dessa região que impede a realização normal dos movimentos.

 Tratamento cirúrgico

A cirurgia para tratar o IFA é a vídeo artroscópica. Nos casos mais graves, pode haver a necessidade da realização de cirurgia aberta para uma correção mais completa.

FONTE: PAI, H. J. Impacto femoroacetabular – Síndrome do impacto no quadril. Dor articular, Medicina de Reabilitação, Medicina Esportiva, Saúde, 2019. Disponível em: https://www.hong.com.br/impacto-femoroacetabular-sindrome-do-impacto-no-quadril/